Cap.VI - Como realizar a Cosmoterapia

Sendo que os males do homem vêm do seu ego-consciente ilusório, e todos os bens lhe advêm do verdadeiro cosmo-consciente, segue-se que o homem ego-consciente, para se libertar dos seus males, deve tornar-se cosmo-consciente, ou seja, cristo-consciente, teo-consciente.

Esta invasão cósmica, porém, só é possível se o ego a permitir, se o homem-ego se abrir ao influxo do espírito cósmico.

No meio das ruidosas facticidades de cada dia, que perfazem as 24 horas diárias do homem ocidental, não é possível essa invasão cósmica, essa cosmoterapia.

Por isso é indispensável que o homem modifique o seu programa diário, que inclua no seu diário repleto de ruídos profanos um período de silêncio sagrado.

Essa entrada no santuário do silêncio não é um escapismo – como muitas vezes acontece no Oriente – mas é, ou deve ser uma espécie de "retirada estratégica da vida", com o fim de dar conteúdo e grandeza à vida.

Quem nunca se retirou do ruidoso sansara da vida para o silencioso nirvana da solidão, não tem poder sobre a sua vida, vive ou vegeta uma vida vazia, uma deslumbrante vacuidade. 90% dos homens e das mulheres de hoje, dizem os médicos e psiquiatras, são neuróticos ou neurasténicos – porquê? Porque vivem na vacuidade dos seus ruídos e ignoram a plenitude do silêncio.

Somente uma retirada estratégica da vida confere à vida plenitude de poder, de alegria e felicidade.

Essa retirada não é um escapismo, uma fuga da vida, rumo à plenitude, com o fim de carregar a bateria espiritual e depois utilizar essa energia acumulada para todos os sectores da vida profissional.

O homem profano tenta curar as facticidades pelas facticidades, as coisas do ego pelo próprio ego – e não percebe que isto é um círculo vicioso, um processo ineficiente, tão ineficiente como o de quem tentasse mover uma turbina com as águas dum lago no mesmo nível. De nível para nível não há nível, não há força, não há voltagem, porque não há desnível, distância, alteridade.

O homem místico, desiludido desse círculo vicioso do profano, desespera da cura na vida presente aqui na terra e refugia-se numa cura além-túmulo ou além terra; crê numa terapia no futuro e em outros mundos , mas descrê duma terapia aqui e agora.

O homem cósmico ou univérsico, porém, é tão intensamente realista que sente em si o poder de curar as coisas da vida material pelo impacto da consciência espiritual; não é unilateralmente aquém-nista, como o profano; nem é unilateralmente além-nista, como os místicos – o homem cósmico é unilateralmente universalista, univérsico.

O homem profano só se interessa pelo homem-corpo.

O homem místico só crê no homem-espírito.

Mas o corpo sem alma é cadáver – e a alma sem corpo é fantasma.

Homem-cadáver ou homem-fantasma não resolvem o problema.

O homem-cósmico, porém, não quer saber de homem-cadáver nem de homem-fantasma – ele quer o homem-homem, o homem real, o homem integral, o homem-corpo-e-alma.

Esse homem integral não é comum nem no Ocidente nem no Oriente. Será que existe mesmo? No meu livro Cosmorama , tentei dar um retrato autêntico do homem integral, do homem cósmico.

Há quase 2.000 anos que vivia, aqui na terra, um homem cósmico, equidistante do Ocidente e do Oriente – tanto assim que viveu na linha divisória entre os dois hemisférios, na Palestina – porque a sua consciência era universal, síntese de tudo que há de bom no Ocidente e no Oriente. O grosso dos seus discípulos, porém, não compreendeu esse homem cósmico; uns caíram no materialismo ocidental, outros volatilizaram-se no espiritualismo oriental – poucos compreenderam o Realismo Universal do Mestre.

" Haverá um novo céu e uma nova terra...O reino de Deus será proclamado sobre a face da terra"
Estas palavras proféticas do Apocalipse foram realizadas pelo homem cósmico, que a si mesmo se chamava sempre "o filho do Homem".

Se a humanidade tivesse aceitado a mensagem desse homem integral, não haveria lugar para cosmoterapia, porque nenhuma terapia tem cabimento no homem cósmico, uma vez que nele não há males nem maldades. Mas, como o grosso da humanidade não aceitou a mensagem cristo-cósmica desse homem,é necessário traçar directrizes para uma cosmoterapia ou cristoterapia.

A alma dessa terapia só pode ser consciencializada em período de profundo silêncio e solidão. Enquanto o homem não tomar a sério o sentido desse silêncio e dessa solidão não haverá cosmoterapia. Todos os grandes iluminados e iniciados, de todos os tempos e países, viveram dias, semanas, meses, e alguns até anos, em profundo e dinâmico silêncio, permitindo que a plenitude cristo-cósmica fluísse para dentro de sua ego-vacuidade.

Enquanto o nosso pequeno ego pensa, fala e ouve falar, ele consegue sobreviver – mas, quando deixa de pensar, de falar e de ouvir falar, começa a agonizar e, se persistir no silêncio, acabará por se afogar nesse Oceano Pacífico do silêncio redentor. E então, após esse egocídio, pode nascer o Eu crístico, e esse homem pode dizer ; " Eu morri, e é por isto que eu vivo, mas já não sou eu (ego) que vivo, o Cristo (Eu) é que vive em mim ". Eu não sou mais ego-vivente – eu sou Cristo-vivido.

O ego vive no barulho e do barulho - e morre no silêncio.

O Eu , sendo Deus (Infinito) no homem, vive no silêncio como a Divindade. Mas esse silêncio é mil vezes mais fecundo que todos os ruídos. Não é um silêncio vacuidade, é um silêncio de plenitude. Não é um silêncio de ausência, é um silêncio de presença – é a mais poderosa presença, a omnipresença cósmica da Infinita Realidade.

Somente com esta poderosa presença da Realidade é que o homem pode realizar o homem. Nunca homem algum se realizou a não ser nas profundezas do Silêncio-Realidade.

Até há pouco não tínhamos, aqui no Ocidente, lugares apropriados onde o homem pudesse viver despreocupado em longos períodos de silêncio e solidão. Ultimamente, porém, o movimento mundial, que no Brasil tomou o nome de "Alvorada", (Centro de Auto-Realização), construiu ou está a construir alguns lugares apropriados onde as almas desejosas do seu encontro com Deus (Infinito) encontrarão o ambiente propício para a realização desse anseio.

Os nossos centros e santuários de sintonização cósmica não têm carácter residencial, como no Oriente; servem para retiros temporários, tanto colectivos como individuais. São centros de renovação espiritual, onde o homem poderá carregar a sua bateria e com essas energias acumuladas beneficiar a sua vida e a vida dos outros.

Centros de cosmoterapia.

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